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quinta-feira, maio 10

Especial : Tim Burton e a poesia das sombras


Mestre de histórias de assombramentos vários, Tim Burton regressa com o delicioso "Sombras na Escuridão", revisitação de uma série televisiva com mais de 40 anos. Com Johnny Depp, claro.

Tim Burton ou a poesia das sombras

Hoje em dia, os diversos registos do "fantástico" estão muito marcados pela proliferação tecnológica. Para o melhor e, sobretudo, para o pior: com frequência, a acumulação festiva (?) de efeitos especiais é entendida como um fim em si mesma, secundarizando o essencial em qualquer género cinematográfico. A saber: as histórias que se contam e, acima de tudo, o modo de as contar.

O novo filme de Tim Burton, "Sombras da Escuridão" constitui um belo exemplo deresistência. De quê? Precisamente dessa arte de contar histórias e, acima de tudo, de o fazer com a consciência muito nítida de que se está sempre a estabelecer alguma ponte com um património tão vasto quanto disponível.

Insolitamente, esse património é, neste caso, de raiz televisiva: Burton recupera uma das suas referências de infância, a série "Dark Shadows" (1966-1971), preservando o seu desconcertante misto de conto fantástico e comédia do absurdo... Basta dizer que a personagem central é Barnabas Collins, vampiro muito aristocrata que conhecemos no século XVIII, em Liverpool, para reaparecer no Maine, em 1972 (!), para salvar a honra perdida dos Collins.

Para Johnny Depp, intérprete de Barnabas, esta foi a oportunidade de assumir uma figura que, também ainda criança, o seduziu de forma indelével. Além do mais, Burton continua a ser um genuíno director de actores, desta vez devolvendo ao cinema a "esquecida" Michelle Pfeiffer, impecável na figura da matriarca Elizabeth Collins.

"Sombras da Escuridão" possui, acima de tudo, a sedução (e o detalhe) de uma verdadeira fábula. Burton é um narrador que acredita na energia própria das histórias que o encantam (e nos encantam), encenando até às últimas consequências as suas peripécias e também, hélas!, a sua moral. Dito de outro modo: esta é uma fábula crente no poder primitivo do amor e na energia poética que se oculta nas sombras dos séculos.

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